Entenda as causas do
crescimento nos preços dos imóveis no Brasil
Em três anos, o preço dos
imóveis em São Paulo ficou 85% mais caro, enquanto o aluguel subiu menos de
40%. No Rio, os imóveis dobraram de preço. Imóveis em Brasília também tiveram
valorização expressiva.
Christiane Pelajo
O preço dos imóveis subiu
muito nos últimos anos no Brasil. Essa valorização rápida fez com que muita
gente começasse a se perguntar se estamos vivendo uma bolha, como aconteceu nos
Estados Unidos. Será?
O preço de um apartamento
depende do tamanho do imóvel, do estado de conservação, do material usado, dos
acabamentos, mas principalmente da localização.
Se você quiser morar na praia
do Leblon no Rio de Janeiro, prepare o bolso. Um imóvel no local pode custar
até R$ 32 milhões. Foi exatamente por esse preço que um apto de 600 metros
quadrados foi vendido em um prédio.
“No Rio não tem mais terrenos
para edificar, então nessas regiões tem uma valorização, é aquela lei de
mercado de oferta e de procura”, conta gerente de construtora Luiz Fernando
Moura.
Esse aumento de preços não é
um fenômeno apenas do Rio de Janeiro. Brasília também teve uma valorização
impressionante.
“Na região do Plano Piloto, a
média está um pouquinho acima do que o Rio de Janeiro, porque a renda é maior”,
declara Moura.
“O que acontece é que o Plano
Piloto em Brasília está completamente asfixiado. A única alternativa é procurar
sair do plano piloto”, fala o presidente do Cofeci (Conselho Federal do
Conselho de Imóveis), João Teodoro da Silva.
Bairros inteiros vêm surgindo
em várias cidades brasileiras. Em Brasília, um dos destaques é Águas Claras.
Até a década de 90, não havia nada no local, era um imenso matagal. De lá pra
cá, tudo mudou. Oitocentos prédios brotaram do chão, o número de moradores
aumentou quase quatro vezes. Agora, são 150 mil habitantes.
O mercado imobiliário
brasileiro está tão aquecido que tem gente que acha que podemos viver uma
bolha. Ela acontece quando os preços sobem tanto que quem comprou não consegue
mais pagar pelo imóvel. A primeira consequência é a redução na procura por
financiamento e logo depois a queda dos preços num efeito dominó.
Tem economista que diz que
começa a aparecer em algumas cidades brasileiras um dos sintomas de bolha. “Há
um descolamento imenso entre o preço de imóveis e o preço de aluguéis, eles
devem andar mais ou menos equilibrados”, diz o economista William Eid.
“Em São Paulo, os preços
subiram muito, sobretudo o preço de imóveis novos, a gente não vê o aluguel
acompanhando”, fala o professor de economia da FGV-SP, Samy Dana.
Em três anos, o preço dos
imóveis em São Paulo ficou 85% mais caro, enquanto o aluguel subiu menos de
40%. No Rio, os imóveis dobraram de preço. Para alugar, também subiu -- só que
numa velocidade bem menor.
O perigo do valor do aluguel
muito baixo é desestimular a compra. A pessoa acaba optando por alugar e deixar
o dinheiro que tem rendendo no banco. Um dos sintomas mais fortes de bolha é
quando o desempenho da economia não justifica os preços cobrados pelo mercado.
Isso não acontece no Brasil.
“O sistema brasileiro é
sólido e a família brasileira está com crescimento de renda muito forte, você
tem uma demanda potencial muito grande, então é isso na verdade que está
explicando essa alta de preços num passado recente”, afirma o economista-chefe
da MB Associados, Sérgio Vale.
“Acho que não existe bolha no
país nem de demanda nem de crédito”, fala o presidente do Secovi - SP, João
Crestana.
Nos Estados Unidos, foi bem
diferente. A bolha imobiliária estourou em 2008. Lá, a crise começou com o
super aquecimento do mercado imobiliário. Com muito crédito disponível, muita
gente começou a financiar casas apostando na alta dos preços. Eles realmente
subiram.
Alguns imóveis tiveram o
valor quadruplicado. Aí a bolha estourou e até agora, o país não se recuperou
desse baque.
Com muito dinheiro para
emprestar, os bancos não eram rigorosos na seleção e davam crédito até mesmo
pra quem não tinha como comprovar renda.
Por exemplo, o americano ia
ao banco e financiava uma casa no valor de US$ 300 mil. Como os imóveis, na
época, estavam se valorizando muito rápido, em pouco tempo, a casa valia bem
mais, vamos dizer, US$ 400 mil. Essa diferença de US$100 mil dava a ele o
direito de ir ao banco e pegar esse dinheiro emprestado, fazer uma dívida nova
para gastar como quisesse.
O problema começou quando os
preços das casas caíram, as prestações subiram e muita gente teve que devolver
a casa pra se livrar da dívida. Conclusão: os bancos tiveram que leiloar os
imóveis, com muita casa sendo vendida, os preços despencaram.
Segundo Jonathan Miller, que
é presidente de uma consultoria especializada em mercado imobiliário, o preço
dos imóveis hoje nos Estados Unidos está em média 30% abaixo do pico alcançado
em meados de 2006.
A bolha estourou dois anos
depois, em 2008 atingindo todo o sistema financeiro e até agora, o mercado
imobiliário ainda não se recuperou.
A nossa realidade não é nada
parecida com a americana. “Lá o mercado é extremamente especulativo. As pessoas
compram para ganhar dinheiro em cima do mercado. Aqui não. As pessoas compram
para sua própria habitação”, explica o presidente do Cofeci (Conselho Federal
do Conselho de Imóveis), João Teodoro da Silva.
“Por que poderíamos ter uma
bolha? Ou pela supervalorização do imóvel ou pela falta de renda de quem vai
pagar a prestação. Se nós tivermos essas duas pontas bem cuidadas, nós não
teremos nenhum problema”, explica o presidente do Secovi -RS, Moacyr Schukster.
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